segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Um conto de César Mêmolo Júnior

A 3a Semana André Carneiro, que aconteceu em 2016, foi dedicada a César Mêmolo Júnior. Sua contribuição a cultura extrapola os limites de Atibaia, local onde ocorreu suas primeiras inserções na literatura, na poesia e no cinema. César Mêmolo Júnior faz parte da história do audiovisual brasileiro, principalmente paulista, por sua atuação junto a LinxFilm, atuando nas áreas de publicidade, animação comercial e cinematográfica. Em Atibaia, junto com André Carneiro e Dulce Carneiro, criou o Jornal Literário Tentativa. O conto abaixo foi publicado no quinto número, em dezembro de 1949. 

O Filho do Pastachuta


Diziam: “Olha o filho do Pastachuta!”  Nério examinava Márcia, Rubens, Eduardo, sua mãe, se divertindo com a expressão de seu rosto. Durante muito tempo a frase mantivera um efeito dissolvente sobre sua alegria. Bastava ouvi-la, para sentir-se humilhado e encerrar-se num sufocante mutismo. No inicio pensou: “Será brincadeira...”Mas, com o correr dos dias, a frase se generalizou, e até os estranhos a empregavam. Era só cometer uma falta e já diziam: “Olha o filho do Pastachuta”. Uma vez Márcia perguntou: “Nerinho, lembra do Pastachuta? “É seu pai, que há anos trouxe você pra morar conosco...”. Todos o olhavam com ternura, e nos lábios levemente entreabertos, havia um sorriso despontado. Não respondeu. As gargalhadas então surgiram e enquanto a irmã o abraçava. Rubens, Eduardo e sua mãe se agitavam nas poltronas. Nério fugiu. E no quintal, sozinho, sentiu o peso da revelação. Um mundo vasto de apreensões se descortinara para ele. Uma insegurança inexplicável o amedrontava, e, pela primeira vez em sua vida, pressentiu a ineficácia de suas lágrimas. Não conhecera seu pai. Não sabia quem era o Pastachuta. Destas duas realidades emergia a paternidade daquele estranho. Sondou os irmãos, perguntou timidamente à sua mãe de quem se tratava, e, como não lhe davam respostas, nem atenção, recorreu à empregada. As primeiras palavras desta, os contornos surgiram e depois se transformaram em sólidas recordações. Nério lembrou-se do Pastachuta. Era um velho italiano que, empurrando um carrinho de rodas frouxas carregado de frutas, percorria diariamente as ruas do Brás, onde tinham morado há pouco tempo. De barbas grisalhas, maltrapilho, a carne muito branca exposta nos rasgos da roupa, o pobre ficava sujeito a molecada que o seguia, arremedando seu modo de falar, imitando seu andar lento e arrastado, quando não atiravam sobre ele cascas de frutas ou outros objetos. Nério visualizou tudo. E reconstituiu o dia em que o velho se aproximou dele para apoiar a mão em sua cabeça e dizer: “meu filho”. Sim, ele o chamara “meu filho”. Quando voltaram a chama-lo de “o filho do Partachuta”, Nério fugia, e  durante horas vagava soturnamente pelo quintal, triste, calado. Uma noite, Eduardo apontou-o: “o filho do Pastachuta é quem vai buscar”. Os outros riram, apoiando a sugestão. Nério empalideceu, incapaz de se mover, com as palavras truncadas na boca. “Não sou filho do Patachuta, não sou.”, pensava. Tentou falar. Os argumentos porém se desfaziam na sua mente, e ele sentia-se incapaz de enfrentar a todos, negando aquilo de que ele se convencera.  A voz lenta do Pastachuta, chamando-o “meu filho”, aquela mão suja e magra que se apoiara na sua cabeça, a molecada o perseguindo na rua, todas as reminiscências se avivavam. As lágrimas surgiram nos olhos de Nério. Finalmente livre,  Nério gritou como podia, entre soluços que lhe sacudiam o corpo: “é mentira. O Pastachuta não é meu pai. Não é...não é...”. Mais tarde foram procurá-lo e fizeram promessas conciliadoras, cercaram-se de desusados carinhos. Hoje, o Pastachuta talvez tenha morrido. Nério não sabe. E os outros, esses nem lhe falam dele...

domingo, 18 de dezembro de 2016

Agora é oficial !

O Projeto de Lei que instituiu a Semana André Carneiro no calendário cultural do município de Atibaia foi aprovado por unanimidade pelos vereadores presentes na Sessão da Câmara que aconteceu dia 5 de dezembro de 2016. O projeto de lei é de autoria do vereador Paulo Fernando Serrano Catta Preta, do PV. O Projeto de Lei agora é a Lei 4.475, de 15 de dezembro de 2016 e foi publicada na Imprensa Oficial do Município na edição 1.846. Essa iniciativa contribuirá para a continuidade da proposta, oferecendo respaldo institucional e condições efetivas para pleitear dotação orçamentária junto ao município. A limitação financeira foi um dos fatores que impediram, até agora, a implantação da Semana André Carneiro como previsto em sua concepção original. Nela a participação dos artistas locais e regionais, através de mostras, concursos e editais, seriam de suma importância para a expansão e envolvimento da cidade em suas atividades.




As edições anteriores...


No centro (de pé) André Carneiro
e ao lado (de paletó) o Prof. Mustafá Ali Kanso. 
A 1ª Semana André Carneiro aconteceu em 2014, no Ciem – Centro Integrado de Educação Municipal. A Semana foi aberta pelo escritor Nelson de Souza, que falou sobre a trajetória artística do amigo André Carneiro. Também foi inaugurado o ExpoRua, formado por oito painéis expositivos com informações referentes à vida e obra de André Carneiro. O ExpoRua circulou por diversos bairros da cidade. No dia seguinte o Prof. Mustafa Ibn Ali Kanso realizou a palestra “As Dimensões Criativas de André Carneiro”. O destaque foi a presença do próprio homenageado, então com 92 anos de idade, que recebeu das mãos do chefe de Gabinete, Dr. Luiz Benedito Roberto Torricelli, representando o Prefeito Municipal de Atibaia Saulo Pedroso, uma placa de reconhecimento do município pelo trabalho realizado em Atibaia. Esse ato simbólico foi recebido de forma calorosa por André, que retribuiu numa emocionada declaração de amor à sua terra natal. Essa foi sua última visita a Atibaia, vindo ele a falecer meses depois. Na ocasião houve ainda uma pequena mostra dos livros de sua autoria. As obras passaram a fazer parte do acervo das bibliotecas públicas da cidade, que até então dispunham de poucas edições.


Palestra de Silvio Alexandre 
A 2ª Semana André Carneiro ocorreu em 2015 com a primeira exibição pública do site da Semana no Centro de Convenções Victor Brecheret. No saguão de entrada foi montado o ExpoRua, local onde houve a leitura de alguns poemas de André pelos escritores Carlos Alberto Pessoa Rosa e Euclides Sandoval, além da performance Esfera Cerrada, encenadas pelas meninas do Corpo Municipal de Dança de Atibaia. Ainda no saguão aconteceu o lançamento da primeira edição do Caderno da Semana e a abertura da exposição Arte Fotográfica de André Carneiro, que destacou as imagens presentes no livro Fotografias Achadas, Perdidas e Construídas. No palco uma pequena palestra do editor Silvio Alexandre sobre a obra do homenageado. Contamos também com a presença de Mauricio Carneiro, filho de André, que falou sobre o pai e a realização do evento. A Semana teve continuidade com a mostra O Cinema Nacional de Ficção Científica. Na programação, filmes raros e cultuados entre os aficionados do gênero. Essa proposta estava presente em função do homenageado ter estreita ligação com o tema. Outra ação desenvolvida em 2015 foi a circulação do ExpoRua por diversos bairros da cidade, com destaque para a montagem na FAAT – Faculdades Atibaia, espaço que conta com estudantes de diversas áreas e principalmente alunos do curso de artes visuais. Uma das propostas da Semana André Carneiro, a médio e longo prazo, é inseri-la na vida estudantil e acadêmica da região, forma de perpetuar a obra de André às futuras gerações.

Mostra As Capas do Tentativa
A 3ª Semana André Carneiro aconteceu em setembro de 2015, com a mostra A Arte Fotográfica de André Carneiro  no saguão da Câmara Municipal. No Centro de Convenções foi aberta a mostra Capas de Tentativa, que reproduziu as treze capas da edição do jornal literário Tentativa, produzido em Atibaia por André Carneiro, César Mêmolo Junior e Dulce Carneiro entre 1949 e 1951. Aconteceu também a abertura da exposição André Carneiro Fotografias, com fotos que integram o livro com o mesmo nome. O livro, editado pela Secretaria de Estado do Paraná através da Lei de Incentivo à Cultura de Curitiba, foi lançado com exclusividade nessa 3ª edição da Semana. Outra obra inédita de André Carneiro lançada nesse evento foi Teorema das Letras, da Editora Devir. Seu quinto livro de contos, Teorema das Letras é a primeira publicação póstuma, reunindo a última fase da sua produção. A Revista da Semana número 2 também foi lançado na ocasião. Nela matérias sobre o Jornal Literário Tentativa e principalmente sobre o trabalho de Cesar Mêmolo Jr. Ele foi lembrado nessa 3a Semana pelo trabalho junto ao jornal literário e outras ações de grande importância para a cidade como a criação da Biblioteca Municipal, a Primeira Exposição de Arte Moderna de 55, etc. Fechando a noite aconteceu a leitura de poemas de André Carneiro pelo multimídia Euclides Sandoval e a participação do Grupo de Choro da Fama. Por fim o depoimento dos filhos de André Carneiro, Mauricio e Henrique, que falaram sobre o pai e a realização da Semana. A programação continuou com a mostra O Cinema Nacional de Ficção Científica e a Mostra Linxfilm, nas dependências do Instituto Garatuja. O destaque dessa edição foi a disponibilização de todas as edições do Jornal Tentativa no site da Semana, incluindo o número treze, que poucos conheciam. Está disponível também o trabalho acadêmico do pesquisador Osvaldo Duarte sobre o jornal. Ações de suma importância para divulgação da obra de André Carneiro.

Élsie da Costa, do Instituto Garatuja, o vereador Paulo Catta Preta
e Maurício Carneiro (de costas).


















O Instituto Garatuja e os familiares do André Carneiro agradecem a prontidão e seriedade do vereador Paulo Catta Preta, ao somar esforços no sentido de legitimar a importância do artista e sua obra para a cidade de Atibaia. A Semana André Carneiro tem a realização do Instituto de Arte e Cultura Garatuja e da Prefeitura da Estância de Atibaia, através da Secretaria de Cultura e Eventos.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

As imagens nas páginas do Tentativa


O jornal literário Tentativa, já no primeiro número se mostra preocupado com o resultado estético face aos limitados recursos da época. O processo utilizado era a tipografia. Processo extremamente trabalhoso se comparado aos atuais. Cada palavra impressa era formada por letras de metal em relevo, montadas uma a uma, de trás para a frente. A tinta aplicada sobre esse relevo era calcada no papel, como um grande carimbo. Desenhos ou fotos, mais complicado ainda. Daí a escassez de imagens nos jornais da época. Fato que não ocorreu no Tentativa. A começar da logomarca desenvolvida pelo então iniciante artista plástico Aldemir Martins. De grande impacto visual a logomarca, assim como as demais ilustrações feitas por ele, é arrojada para a época e bonitas até hoje. Destaque para o bico de pena Vista de Atibaia, que figura em meio ao texto de Oswald de Andrade, logo na primeira edição. Cada imagem impressa vem de um clichê. Descendente direto da xilogravura, o clichê é um processo fotomecânico e provavelmente, no caso do Tentativa, feito em outra cidade. O trabalho de impressão acontecia na Oficina Gráfica Santa Terezinha, pelo Jornal O Atibaiense, de propriedade da Diocese, que na época tinha sido arrendado pelo pai de César Mêmolo Jr. Nos três primeiros números do Tentativa as ilustrações são exclusivamente de Aldemir Martins, presente nas edições seguintes, exceto nos números 5, 10 e 13, onde seu nome não aparece. A partir da quarta edição surgem outros artistas. Pela ordem: Carolyn Spaaks, Franz Weissmann, Frans Masserel, Picasso, Oswald de Andrade Filho, Geraldo de Barros, El Greco, João Luiz Chaves, Franz Maseerel, Washington Júnior, Clovis Graciano, Carybé, Paulo Vicente de Souza Lima, Lygia Sampaio, Jenner Augusto, Itajahy Martins, Jean Toth e Farnese. Pelas informações obtidas não há como identificar quais trabalhos foram produzidos especialmente para o Tentativa. Mesmo as imagens de Aldemir Martins, que a princípio sugerem que foram produzidas especialmente para o jornal, pode ser questionado, uma vez que a citada Vista de Atibaia foi utilizado dois anos antes como capa da Revista do Arquivo Municipal, editado pelo Departamento Municipal de Cultura de São Paulo, no volume CXV, de 1947. Pode-se especular sobre outros artistas.  É o caso dos cinco trabalhos de João Luiz Chaves que constam nos últimos números.  João Luiz Chaves integrou o grupo de jovens artistas de Atibaia que na década de 40 formaram um movimento de vanguarda a inserir modernidade na pacata cidadezinha. Fizeram parte desse movimento, além dos citados João Luiz Chaves e André Carneiro, as irmãs de André (Dulce, Maria Francisca, Odila e Odete), além de César Mêmolo Júnior e seus primos Elisa Helena, Maria Amélia, Amadeu Lana e ainda Luzia Lima de Oliveira Chaves. O grupo atuou em diversas áreas como cinema, literatura, fotografia, artes plásticas, música, etc, Culminou mais tarde na realização do Tentativa e depois na Exposição Coletiva de Pintura, em Atibaia. Por essa razão é provável que as gravuras de Luis Chaves tenham sido produzidas exclusivamente para esse jornal. No número quatro, já na capa, uma bela xilogravura de Aldo Bonadei, amigo de André Carneiro, que também transitava por diferentes linguagens: poesia, moda, teatro e artes plásticas, sendo mais conhecido por sua participação no Grupo Santa Helena. Em 1950 Aldo Bonadei ficou encarregado de escolher os artistas participantes da Primeira Exposição Coletiva de Pintura. Esse foi outro fato histórico sem precedentes na história da cidade, dado a grandiosidade e o inusitado da realização. Nomes que participaram da mostra, com trabalhos originais, também aparecem ilustradores do Tentativa, como Geraldo de Barros, Oswald de Andrade Filho, Franz Weismann e o próprio Aldo Bonadei. Logo se conclui que alguns desses artistas tiveram exclusividade no Tentativa, afirmação difícil de ser feita, uma vez que até o momento não se conhecem registros a respeito. Há uma distinção com referência á classificação das imagens: hora aparece “ilustração de”, ou “desenho de”, “reprodução de” e ainda a técnica utilizada: “aquarela de”. Esse detalhe poderia oferecer alguma dica, sugerindo que as “ilustrações de” seriam de exclusividade do jornal, algo feito especialmente para entrar em determinadas matérias. Indício mais forte quando vemos o trabalho de Carybé e de Itajahi Martins. Outras imagens aparecem, como reproduções das obras de Picasso e El Grecco, além de fotos promocionais de filmes, de personalidades como Mário de Andrade e Joaquim Nabuco. Há fotos de registro sobre a Exposição de Arte Moderna e a entrevista com o pintor Guignard. Assim como Klaxon, a revista de divulgação do Movimento Modernista de 22, que já trazia a inovação gráfica como parte integrante da proposta. O jornal literário Tentativa também demonstra essa preocupação, embora com menor ousadia. Trinta anos decorreram entre uma e outra publicação sem que houvesse mudanças significativas quanto à técnica de impressão. A grande diferença entre elas foi o contexto em que foram produzidas. Uma em São Paulo, já metrópole, outra em Atibaia, cidadezinha com menos de 25.000 habitantes. Esse um grande mérito do jornal Tentativa.









Todos os trabalhos acima são de Aldemir Martins e foram produzidos especialmente para o jornal Tentativa. Em 2006, por ocasião da publicação fac-símile do Tentativa, Araceles Stamatiu realizou a entrevista abaixo.

Tudo na vida é papel
Aldemir Martins revê o Tentativa. Curioso, emocionado, chama seu assessor Umberto e aponta para o logotipo que criou há mais de quatro décadas: “Olha que bonito...”. Folheia o jornal e vai mostrando as ilustrações ao pessoal à sua volta no ateliê. Observa cada desenho, o tracejado aprendido com rendeiras da sua terra, “ponto de mosca, cruz e bico, rendas nas palhas de catolé, caçuá e banana e com o desenho das nódoas do caju na roupa”, conta ele, sempre divertido. Fecha o jornal e diz “tudo na vida é papel!”. Depois, lentamente, vai contando como, recém-chegado do Ceará, viveu em Atibaia a experiência dessa publicação. “Tinha chegado a São Paulo há pouco tempo e um amigo, o deputado Germinal Feijó, ofereceu seu sítio em Atibaia para eu morar. Era uma granja cuidada por um japonês. Não faltavam ovos. Eu almoçava em uma padaria no centro da cidade. Acho que era do senhor Antônio, não me lembro bem.” “Como os artistas acabam se encontrando, conheci a Dulce Carneiro. Uma menina linda de vestido de crochê, falando françês e inglês, familiarizada com os grandes movimentos artísticos do mundo. Uma intelectual. Depois fiz amizade com o César Mêmolo, o André Carneiro e também o João Batista Conti. Como era mesmo o nome da mulher dele? Mercedes, isso mesmo.” “No armazém do pai da Dulce e do André tinha um salão e lá nos reuníamos para programar a edição do Tentativa. O projeto era grande, ambicioso...E assim nasceu esse jornal fabuloso, com o melhor da arte e da literatura que, saindo de uma cidadezinha, circulou até pelo exterior. Foi uma grande experiência. Éramos jovens, desafiávamos o mundo...”


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A Olaria, de César Mêmolo Júnior

O documentário A Olaria, de César Mêmolo Júnior, foi realizado em Atibaia no ano de 1950 e registra a fabricação de tijolos pelo “sistema primitivo”, como descrito no próprio filme. Esse foi o terceiro filme produzido por ele e rodado na Olaria Lynce, de propriedade do seu pai, o empresário César Mêmolo.

Em 2005 o Instituto Garatuja produziu o vídeo Oi Lá no Céu! de Rubens Xavier e Élsie da Costa, sobre as Congadas de Atibaia, onde também consta um breve registro do processo de fabricação de tijolos. As imagens foram colhidas em função do contexto em que vivem os participantes da congada vermelha, do bairro do Portão. Muitos congadeiros moram na própria olaria, onde também acontecem os ensaios do grupo. No passado a maioria dos integrantes dessa manifestação eram empregados e moradores das olarias da região.

Ao comparar os dois filmes, separados por mais de sete décadas, constata-se que infelizmente quase nada mudou. O crescimento urbano, ainda hoje, vem de mãos calejadas de trabalhadores que, muitas vezes, não tem sequer uma casa para morar. Veja o vídeo Oi lá no Céu!


sábado, 1 de outubro de 2016

César Mêmolo Júnior e a cultura local

Na 3ª Semana André Carneiro o destaque foi o jornal literário Tentativa, o maior patrimônio cultural erudito do município (Patrimônio cultural popular são as Congadas). Tentativa foi criado por André Carneiro, que contou com a participação da irmã Dulce e do amigo César Mêmolo Júnior, o homenageado desse evento. 
O Grupo

No final da década de quarenta, César Mêmolo Júnior era um dos jovens atibaienses que buscavam trazer para a pequena cidade de Atibaia a contemporaneidade dos grandes centros. Atibaia, na época com aproximadamente 14.000 habitantes, recentemente transformada em estância hidromineral vivia um período de esperança pós-guerra. Desse grupo fazia parte, além de Cesar Mêmolo Jr. e seus primos Elisa Helena e Maria Amélia, Amadeu Lana, Luzia Lima de Oliveira Chaves, Dulce Carneiro, Maria Francisca, Odila e Odete Carneiro, tendo André Carneiro como mentor e catalisador. Ligados e incentivados pela corrente cultural europeia o grupo realizou uma série de ações que marcaram a vida cultural da cidade para sempre. Uma de suas características era transitar por diversas linguagens, fato que influiu na produção de André Carneiro, de João Luiz Chaves e do próprio César Mêmolo Júnior.
Nota no Jornal A Manhã (1950)
Rio de Janeiro
Na literatura ocorreu a criação da primeira biblioteca pública de Atibaia, hoje Biblioteca Joviano Franco da Silveira. André Carneiro publica o livro Ângulo e Face (1949), César Mêmolo Júnor,  Permanência e Tempo (1950). Dulce Carneiro escreve poesia com regularidade e juntos criam o Jornal Literário Tentativa (1949-1951). No cinema organizam o Clube de Cinema de Atibaia, com as famosas seções especiais de cinema e arte, com debates no final. Realizam ainda curtas metragens. De André Carneiro: Solidão, Estudo de Continuidade e Movimento e Último Encontro (1950). De César Mêmolo Jr: A Briga, A Olaria, Saudade, Trágica Recordação (1950). Na fotografia, André Carneiro descobre o Cine-foto Clube Bandeirantes e intensifica a produção, tendo muitas vezes Atibaia e seus personagens como tema, sempre pelo viés artístico e não de puro registro.  Nas artes plásticas André Carneiro e João Luiz Chaves dedicam-se com empenho à linguagem e organizam em 1955 a Exposição Coletiva de Pintura, que alcançou enorme projeção. Trouxe para Atibaia obras originais de artistas consagrados como Guignard, Oswald de Andrade Filho (autor do painel Congadas, que se encontra no Parque Edmundo Zanoni), Lothar Charoux, Oswaldo Goeldi, Carlos Scliar, entre outros.  A exposição se deu por ocasião da fundação do Clube do Cinema de Atibaia, organizada pelo Jornal Tentativa e por Aldo Bonadei e Geraldo de Barros.

Quem foi César Mêmolo Júnior

Estância Lynce na década de sessenta - Foto da internet
Seu pai, César Mêmolo, foi grande divulgador de Atibaia. Proprietário do Hotel Campestre Estância Lynce, trouxe para cá personalidades de projeção no meio político, industrial e cultural, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, e outros. Dotado de visão empreendedora, construiu o Ginásio Atibaiense, mais tarde desapropriado pelo Estado, e renomeado Colégio Estadual Major Juvenal Alvim, em atividade até hoje. No início da década de cinquenta, Cesar Mêmolo Júnior intensifica seu interesse pelo cinema e vai trabalhar como assistente de produção no filme Candinho, de Mazzaropi, logo em seguida com Adolfo Celi. Ganha um concurso e vai pra Itália estudar no Centro Sperimentale de Cinematografia, em Roma. Volta pro Brasil e dirige o longa-metragem Osso, Amor e Papagaio. Nunca mais deixou o cinema. Em 1957 monta em São Paulo a produtora Lynce Filmes, especializada em comerciais para televisão. O nome propunha dar continuidade à tradição dos negócios paternos em Atibaia, cujo nome era Lynce Ltda. Mais tarde a Lynce Filmes foi renomeada Linxfilm. A produtora abrigou importantes profissionais do cinema paulista que passavam por dificuldades em função da estagnação do mercado cinematográfico. Esse potencial criativo, aliado ao desenvolvimento tecnológico, tornou a Linxfilm, na época, a mais importante produtora nacional de filmes publicitários. Sua expansão estava diretamente ligada ao crescimento e profissionalização da televisão brasileira. Mais tarde foi aberta uma filial no Rio de Janeiro e outra em Porto Alegre. De lá saíram filmes publicitários que fazem parte da história da televisão brasileira. A presença do desenhista, chargista e animador Ruy Perotti, como sócio da Lynxfilm, foi fundamental para tornar a produtora pioneira na animação publicitária no Brasil. A facilidade técnica, os reduzidos custos de produção, a liberdade criativa e os resultados alcançados fizeram com que a animação tomasse destaque na produtora. Foram inúmeras campanhas desenvolvidas nessa técnica, hoje clássicos da publicidade nacional como as propagandas da Varig, Casas Pernambucanas, Cobertores Parayba, Fósforos Fiat Lux, etc. Com a próspera atividade da propaganda e o incentivo oferecido pela Embrafilme, a Linxfilm, por influência de César Mêmolo Júnior, volta-se novamente para a produção cinematográfica. Foram dez produções: Vozes do Medo (1070), O Predileto (1975), O Seminarista (1976), Contos Eróticos (1977), As Filhas do Fogo (1978), Diário da Província (1978), O Sol dos Amantes (1979), Ato de Violência (1980), Alguém, (1980) e O Homem do Pau Brasil (1981). Destaque para o filme O Seminarista, lançado comercialmente em Atibaia, e Alguém, roteiro baseado no conto O Mudo, de André Carneiro. A importância do trabalho de César Mêmolo Júnior nas áreas da publicidade, animação comercial e cinematografia nacional, principalmente paulista, garante seu nome na história do audiovisual brasileiro. Soma-se a isso sua contribuição à cultura local, ligada principalmente ao Jornal Literário Tentativa, no qual foi o único responsável pelas duas últimas edições, o que qualifica seu nome, embora não tenha nascido em Atibaia, como um dos grandes construtores da sociedade atibaiense.Saiba mais.


terça-feira, 27 de setembro de 2016

Exposições da 3a Semana André Carneiro seguem até o final do mês

Para quem não conhece o trabalho fotográfico de André Carneiro, ou quer rever suas obras, segue até o final do mês duas exposições em Atibaia. A Arte Fotográfica de André Carneiro acontece no saguão da Câmara Municipal. Essa mostra abriu as atividades da 3ª Semana AC e foi organizada pelo Departamento de Comunicação e Escola Legislativa de Atibaia, tendo a frente o jornalista Luis Gonzaga Neto. As fotos presentes estão no livro Fotografias Achadas, Perdidas e Construídas onde André revela situações por trás das fotos, além de causos e histórias sobre o tema. Em muitas delas Atibaia é cenário e antigos moradores os protagonistas. Essa mostra fez enorme sucesso na edição passada, sendo uma oportunidade para quem perdeu ou quer rever o que de melhor se produziu na arte fotográfica da região. A outra exposição está no Centro de Convenções Victor Brecheret, e reúnem algumas imagens presentes no livro André Carneiro Fotografias, lançado com exclusividade no último dia 16, em Atibaia. Para quem tiver interesse em adquirir os livros citados é só entrar em contato com o Instituto Garatuja. Escritor, poeta, cineasta e artista plástico, André tinha uma visão privilegiada para a fotografia – atividade que exerceu durante toda vida. Seu nome figura entre os precursores da Fotografia Moderna no Brasil, ao lado de fotógrafos brasileiros consagrados como Thomas Farkas, Geraldo de Barros, German Lorca, Eduardo Salvatore, Chico Albuquerque, Madalena Schwartz e José Yalenti, entre outros. Esses nomes foram escolhidos por uma pesquisa internacional que selecionou 24 fotógrafos considerados pioneiros na arte fotográfica modernista no Brasil, com destaque para a foto Trilhos, de 1951. Essa foto fica em exibição permanente no Tate Gallery, em Londres. Ainda no Centro de Convenções o visitante poderá conhecer a exposição Capas do Tentativa e descobrir porque o jornal literário Tentativa é nosso maior bem cultural. Tentativa foi uma ousadia de jovens artistas locais, ou,"um sonho inverossímil realizado", como definiu o próprio André e contou, em sua realização, com Dulce Carneiro e César Mêmolo Jr. Realizado entre 1949 e 1951, em edições bimestrais, o Tentativa foi uma experiência única no Brasil ao reunir numa pequena cidade do interior os mais importantes nomes da literatura nacional, e mesmo internacional, através de seus correspondentes em Portugal, Argentina e França. Tentativa teve o logotipo de Aldemir Martins e apresentação de Oswald de Andrade, sendo avaliado na época como o jornal literário mais importante do Brasil. Foi tão grande a repercussão que Oswald de Andrade chegou a acalentar o sonho de formar aqui em Atibaia um centro cultural prevendo revitalizar a cultura nacional e agitar o meio artístico com debates, conferencias, etc. Sonho que nunca se concretizou. Tentativa é considerada peça fundamental da terceira geração modernista: A Geração de 45. Da pequena gráfica do Jornal O Atibaiense saíram nomes como: Sérgio Milliet, Murilo Mendes, Otto Maria Carpeaux, Guilherme de Almeida, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Vinicius de Moraes, Lygia Fagundes Telles, Décio Pignatari e tantos outros. Confira.








































segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Livros de André Carneiro a venda no Garatuja e na Livraria Barqueta.

Para quem quiser conhecer melhor o trabalho literário e fotográfico de André Carneiro, o Instituto Garatuja está vendendo quatro livros do autor. O primeiro é O Teorema das Letras, quinto livro de contos e primeira obra póstuma. O livro foi lançado em Atibaia na última edição da Semana André Carneiro e traz uma avaliação do Prof. Ramiro Giroldo, da UFMS. O livro custa R$ 40,00. Na fotografia lançamos o belíssimo André Carneiro Fotografias, que reúne parte de sua produção. Algumas fotos foram realizadas em Atibaia. O livro é uma iniciativa de Mauricio Carneiro, filho do André, e traz textos complementares de Mauricio, do irmão Henrique Carneiro e do fotógrafo João Urban. Custa R$ 60,00. Temos ainda Confissões do Inexplicável, livro de contos com seissentas páginas que tem a introdução de Dorva Rezende. Esse livro foi bastante elogiado pela crítica especializada. Custa R$ 55,00. Além do Garatuja, esse livro também está a venda na Revistaria e Livraria do Barqueta, ao lado da Igreja Matriz. Por fim Fotografias Achadas, Perdidas e Construídas, onde o autor revela situações envolvendo o ato de fotografar. Muitas das histórias também foram vividas em Atibaia. Ele custa R$ 35,00. Maiores informações: (11) 44129964, falar com o Márcio ou Cida.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Será lançado nessa sexta os Cadernos da Semana.

Criado para dar visibilidade aos artistas locais e regionais participantes da Semana André Carneiro, esse segundo número do Caderno da Semana ainda não cumpre plenamente sua proposta. A intenção é envolver a classe artística por meio de convites, concursos ou editais. Fato que ainda não aconteceu. Focamos então em assuntos presentes na 3a Semana André Carneiro. Nele o destaque é o jornal literário Tentativa, publicado em Atibaia entre 1949 e 1951, por André Carneiro, sua irmã Dulce Carneiro e César Mêmolo Júnior. Esse jornal é nosso maior patrimônio cultural.  Fato comprovado por sua importância, não só para a cidade e região, mas para o país, uma vez que oferece rico material de estudo da Geração de 45. Período esse com poucas referências. No Tentativa participaram artistas e intelectuais que hoje fazem parte da cultura nacional, como Carlos Drummond de Andrade, Lygia Fagundes Telles, Vinicius de Moraes entre tantos outros. O homenageado dessa edição é César Mêmolo Júnior, que tem seu nome intimamente ligado ao jornal Tentativa, sendo ele o único responsável pelos dois últimos números. César Mêmolo Júnior teve uma participação intensa na cultura local nos anos quarenta e cinquenta, período em que participou do grupo de vanguarda que iria deixar importantes contribuições a cidade que perduram até hoje, como a criação da primeira Biblioteca Pública, hoje Biblioteca Municipal Joviano Franco da Silveira. Ainda sobre o Tentativa publicamos uma entrevista feita pela Araceles Stamatiu com o artista plástico Aldemir Martins, responsável pela criação da logomarca do jornal. O texto integrou a versão fac-símile, publicado em 2006, na qual Araceles foi organizadora. A Semana André Carneiro é uma realização do Instituto de Arte e Cultura Garatuja e a Prefeitura da Estância de Atibaia, através da Secretaria de Cultura e Eventos.

O livro Teorema das Letras, de André Carneiro, será lançado na sexta

Dia 16 de setembro, às 20 horas, no Centro de Convenções Victor Brecheret acontece a abertura da 3ª Semana André Carneiro. Na ocasião será lançado o livro Teorema das Letras. Quinto livro de contos de André Carneiro e a primeira publicação póstuma do autor, falecido em 2014, reunindo a última fase da sua produção. Com carreira iniciada em fins da década de 1950, Carneiro foi um dos mais longevos praticantes de ficção científica no Brasil: mais de 60 anos de atividade, também com marcante presença internacional que inclui publicações nos Estados Unidos (em antologia dos melhores contos do ano), Argentina, Inglaterra, Espanha e mais sete países, rendendo comparações com Franz Kafka e Albert Camus. O livro, com capa do artista plástico Claudio Takita, traz a melhor avaliação da carreira de Carneiro (também um poeta da Geração de 45), escrita pelo Prof. Ramiro Giroldo, da UFMS. André Carneiro é autor dos livros de contos: Diário da Nave Perdida (1963), O Homem que Adivinhava (1966), A Máquina de Hyerônimus (1997) e Confissões do Inexplicável (2007), O livro Teorema das Letras estará à venda no dia de seu lançamento e depois estará disponível na Revistaria do Barqueta, vendedor exclusivo dessa obra em Atibaia.

domingo, 11 de setembro de 2016

Leitura de poemas e chorinho na abertura da 3ª Semana André Carneiro












Dia 16 de setembro, às 20 horas, no Centro de Convenções Victor Brecheret, acontece a abertura da 3ª Semana André Carneiro. Está previsto o lançamento dos livros: André Carneiro Fotografias, O Teorema das Letras e Cadernos da Semana 2. Na mesma noite serão abertas as exposições Capas do Tentativa e André Carneiro Fotografias, contendo algumas imagens do livro homônimo. No palco o escritor Euclides Sandoval fará a leitura de poemas. Na edição passada Euclides e o escritor Carlos Alberto Pessoa Rosa leram poesias do livro Quânticos da Incerteza. Dessa vez o livro escolhido foi Ângulo e Face, de 1949. Com Ângulo e Face, André fez sua estreia como poeta, ganhando prêmios e inúmeros elogios: É agora um poeta de São Paulo, mas será certamente do Brasil (Sérgio Milliet), Somente alguns dos seus poemas já bastariam para o inserir entre as melhores expressões do modernismo (José Geraldo Vieira). Fechando a noite teremos a presença do Grupo de Choro da Fama, com Rafael Cardoso no violão, Marcelo Alvim na clarineta e Vitor Zago na percussão, com alguns clássicos do repertório.

Mostra O Cinema Nacional de Ficção Científica e Mostra Linxfilm

Na edição passada a filmografia de ficção cientifica nacional ganhou destaque na programação da Semana André Carneiro. Foram apresentados filmes raros e cultuados como Quinto Poder de Alberto Pieralise e Alguém, de Júlio Silveira. Nessa 3ª edição a mostra O Cinema Nacional de Ficção Científica continua com os filmes O Efeito Ilha e Parada 88. Essa proposta está presente em função do homenageado ter estreita ligação com o tema. André Carneiro é considerado o mais importante escritor nacional de ficção cientifica. No Brasil houve poucas produções cinematográficas voltadas ao tema, daí a importância dessa mostra, que oferece um pequeno panorama do que foi produzido nas décadas de sessenta, setenta e oitenta e noventa, percorrendo diferentes leituras do imaginário do futuro. Em seguida acontece a Mostra Linxfilm. Esse evento é uma homenagem ao trabalho de César Mêmolo Júnior. César foi integrante do movimento cultural ocorrido na dedada de quarenta, em Atibaia, que culminou em importantes realizações que perduram até hoje, como a criação da Biblioteca Pública e do jornal literário Tentativa. Seu trabalho literário, mais tarde, deu lugar ao interesse pelo cinema. Foi assistente de direção do filme Candinho, de Mazzaropi, logo em seguida passa a trabalhar com Adolfo Celi. Ganha um concurso e vai pra Itália estudar no Centro Sperimentale de Cinematografia, em Roma. Volta pro Brasil e dirige o longa-metragem Osso, Amor e Papagaio. Em 1957 monta em São Paulo a produtora Lynce Filmes, especializada em comerciais para televisão. O nome propunha dar continuidade à tradição dos negócios paternos em Atibaia, cujo nome era Lynce Ltda. Mais tarde a Lynce Filmes foi renomeada Linxfilm tornando-se a mais importante produtora da época. Com o sucesso obtido na atividade da propaganda, a Linxfilm, por influência de César Mêmolo Júnior, volta-se para a produção cinematográfica. Foram dez produções: Vozes do Medo (1070), O Predileto (1975), O Seminarista (1976), Contos Eróticos (1977), As Filhas do Fogo (1978), Diário da Província (1978), O Sol dos Amantes (1979), Ato de Violência (1980), Alguém, (1980) e O Homem do Pau Brasil (1981). Destaque para o filme O Seminarista, lançado comercialmente em Atibaia, e Alguém, roteiro baseado no conto O Mudo, de André Carneiro. Alguns desses filmes irão ser exibidos na Mostra Linxfim.

Programação

O Cinema Nacional de Ficção Científica


Dia 17 de setembro - Sábado - 19 horas no IAC Garatuja
O Efeito Ilha - 1994 - Direção de Luis Alberto Pereira

Após a descarga elétrica provocada pela queda de um raio em noite de forte tempestade, João William perde os sentidos para, depois de acordar, se ver prisioneiro de um insólito fenômeno: sua vida passa a ser transmitida 24 horas por dia pela TV. Para o desespero dos telespectadores que, em plena Copa do Mundo de Futebol, não conseguirão acompanhar os jogos da seleção: simultaneamente todos canais passam a transmitir os detalhes indiscretos do dia-a-dia da vida do protagonista por meio de alguma câmera  oculta onisciente e onipresente. Assim como o conto Escuridão, de André Carneiro, tem todos os elementos para provar sua condição de plagiado no livro Ensaio sobre a Cegueira, de Saramago, pode-se dizer o mesmo do filme O Efeito Ilha, de Luís Alberto Pereira, em relação ao filme Show de Truman, de Peter Weil. O filme antecipou em alguns anos o tema das consequências da exposição midiática da vida privada, via reality shows da vida. Só por esse motivo já vale a pena ser visto.


Dia 18 de setembro - Domingo - 19 horas no IAC Garatuja
Parada 88 – Limite de Alerta - 1970 - Direção de José de Anchieta

Os moradores da cidade de Parada 88, contaminada no ano de 1994 devido a explosão do reator de uma indústria química, vivem em túneis de plástico, único meio de vida que pode garantir sua sobrevivência, já que o oxigênio, que tornou-se um bem de consumo. Certo dia, Joaquim ganha um sorteio que lhe dá dinheiro suficiente para pagar pelo seu oxigênio e o de sua família; mas, para pegar o prêmio, ele precisará ir até as ruínas da fábrica para coletar notícias de um grupo de aventureiros especialistas em contaminação postados no local. As criticas ao filme recaem em relação às falhas no roteiro, mas vale a pena ser visto pelo inusitado do tema e pelo fato de ser esse o primeiro filme assumidamente de ficção cientifica nacional com ares cyberpunk e pós apocalíptico. Segue uma chamada no Fantástico, de 1977.



Mostra Linxfilm

Dia 19 de setembro - Segunda - 19 horas no IAC Garatuja
Osso, Amor e Papagaio - 1957 - Direção de César Mêmolo Júnior e Carlos Alberto de Souza Barros.

Os habitantes de Acanguera têm o hábito de empinar papagaio todas as tardes. Um dia, durante uma festa em que o povoado festeja a paz política entre o prefeito e o líder da oposição, morre o coveiro. Escolhendo seu sucessor, prefeito e oposição brigam outra vez. Daí por diante, começa a morrer tanta gente que há dois a três enterrados por dia no pacato povoado. Surge então um personagem estranho, todo vestido de preto. As especulações crescem em torno do homem misterioso. Mas o segredo que aquele estranho homem carrega vai deixar a todos completamente impressionados e vai virar a vida da cidade de cabeça para baixo. O roteiro é uma adaptação do conto A nova Califórnia, de Lima Barreto. O filme é considerado um clássico da comédia nacional e tem direção de César Mêmolo Junior e Carlos Alberto de Souza Barros.


Dia 20 de setembro - Terça - 19 horas no IAC Garatuja
As Filhas do Fogo - 1978 - Direção de Walter Hugo Khouri

Ana, jovem estudante de São Paulo, chega a Gramado, RS, para visitar sua amiga Diana, que mora numa mansão com dois empregados e uma governanta. A mãe de Diana morreu há alguns anos e seu pai, viajando frequentemente, pouco permanece em casa. Passeando pelos bosques da mansão, Ana e Diana encontram Dagmar, uma vizinha que se dedica à Parapsicologia, realizando experiências para captar vozes de pessoas mortas. Após o encontro, as amigas passam a viver estranhas situações. Um mendigo, que procurou a casa em busca de trabalho e comida, aparece morto no bosque. Convidadas para um baile na casa de Dagmar, Ana e Diana encontram a anfitriã na companhia de Sílvia, a falecida mãe de Diana. Durante a festa Ana morre misteriosamente e Diana, desesperada, mata Dagmar. Tentando fugir da casa, Diana encontra as portas trancadas e as janelas tomadas por estranha vegetação. Quando o dia amanhece, a casa está repleta de folhagens, incorporada à Natureza e ao espetáculo da vida e da morte.


Dia 21 de setembro - Quarta - 19 horas no IAC Garatuja
O Seminarista - 1977 - Direção de Geraldo Santos Pereira

Pelos idos de 1920, no interior de Minas Gerais, uma grande amizade de infância une Eugênio e Margarida. Eugênio tem 13 anos e é filho do Capitão Antunes, dono de uma bela fazenda nos arredores de Ouro Preto; Margarida vive na fazenda e é filha de uma viúva agregada. Mas os pais de Eugênio querem ver o filho padre e enviam-no para o Seminário do Caraça. Ele sofre com a mudança, principalmente por causa de Margarida. Dedica-lhe ardentes versos de amor, que provocam a reprimenda dos padres. Anos depois, Eugênio volta e seu encontro com Margarida é emocionante. Ela é agora uma linda moça e eles se entregam de corpo e alma a uma desvairada paixão, e o Capitão sugere que Margarida se case. Como a moça recusa, tem de abandonar a fazenda em companhia da mãe. Eugênio, depois de ordenado, volta para casa e toma conhecimento de tudo. Celebra sua primeira missa e deixa a batina para sempre. O filme foi baseado no livro O Seminarista de Bernardo Guimarães e teve seu  lançamento em Atibaia, em 1976.


Dia 22 de setembro - Quinta - 19 horas no IAC Garatuja
Vozes do Medo – 1969 a 1973 – Vários diretores

A juventude paulistana de 1970, seus medos, angústias, incertezas, anseios sociais e filosóficos, focalizada em episódios organizados de maneira de uma revista: ensaio, crítica,crônica, inquérito, reportagem, história em quadrinhos, depoimento. Os 12 diretores mesclam cinema-atualidade com ficção, desenho animado, realismo fantástico e uma infinidade de outras tendências e manifestações caracterizadas pela livre expressão do pensamento. Um mural sobre o Brasil da década de 70. Uma experiência de liberdade. Primeiro filme da produtora Linxfilm, Vozes do Medo, foi uma ousadia para a época, período bravo da ditadura militar. Aloysio Raulino (fotógrafo do documentário Oi Lá no Céu!, do Instituto Garatuja) conta numa entrevista: era um filme enorme, tinha quase três horas de duração, com muitos episódios, uma produção bastante ambiciosa. (...) o César Mêmolo foi a pessoa que comprou a ideia de uma maneira muito corajosa para a época, muito rara para a época, por ser a Lynxfilm uma produtora grande de publicidade, sem o perfil de produção independente... Imperdível.

sábado, 10 de setembro de 2016

André Carneiro Fotografias

Bebês adoram ovos para jogá-los no chão. Ovos partidos são lindos, mostram a cor do nascimento e, um pouco mais tarde, a bela plumagem... Com essa analogia, utilizando a fotografia como possibilidade de visualizar o mundo em evolução, o autor inicia o livro André Carneiro Fotografias. Iniciativa de Maurício Carneiro, que viveu muitos anos com o pai em Curitiba, cidade onde trabalha como clarinetista da Orquestra do Paraná. A cumplicidade transparece na criteriosa escolha das imagens, nos textos, no carinho e respeito da produção. Seu irmão Henrique Carneiro também está no livro e relata a possibilidade da fotografia como construção de resultado e veículo do sensível, como ensinou o pai. O fotógrafo João Urban, que faz a apresentação e orientação na curadoria, reforça a indagação que fazemos ao conhecer a diversidade e qualidade da obra de André. Por que ele ainda não é conhecido e reconhecido como merece? Difícil achar respostas. No livro, a dúvida ganha força. Imagens arrebatam principalmente pela beleza plástica, pinçadas pelo olhar privilegiado do André ao compor com elementos tão simples. Aí está sua genialidade. Soluções estéticas admiráveis, que trazem a visível preocupação na construção do resultado, lembrado pelo filho Henrique. Atibaia está muito presente no livro, seja no olhar da criança congadeira defronte aos brinquedos, seja no piso de paralelepípedos, tão familiar aos moradores da cidade. O fato de o lançamento acontecer aqui, com exclusividade, e durante a Semana André Carneiro na 3ª edição, preenche uma laguna em relação à distância entre o autor e sua terra natal. Aos poucos Atibaia descobre as muitas facetas de seu filho talentoso. Mais que conhecido, André e sua obra, tem de ser degustado, com a calma e o requinte frente aos melhores vinhos. O livro permite isso: Mais que conhecer, se encantar.

O livro André Carneiro Fotografias foi editado através da Lei de Incentivo da Fundação Cultural de Curitiba e tem apoio da Caixa Econômica Federal. Será lançado em Atibaia dia 16 de setembro, sexta feira, às 20 horas, no Centro de Convenções Victor Brecheret, na abertura a 3a Semana André Carneiro. A Semana André Carneiro é uma realização do Instituto de Arte e Cultura Garatuja e da Prefeitura da Estância de Atibaia, através da Secretaria de Cultura e Eventos. Saiba mais.





quinta-feira, 8 de setembro de 2016

A Semana André Carneiro será oficializada.

Márcio Zago, curador da Semana André Carneiro, fazendo
uso do espaço Tribuna Livre, na Sessão da Câmara.
Teve inicio no último dia 05 de setembro a Mostra A Arte Fotográfica de André Carneiro no saguão da Câmara Municipal de Atibaia. Ela abriu a programação da 3a Semana André Carneiro e contou com a colaboração do jornalista Luiz Gonzaga Neto. A abertura oficial da Semana acontece dia 16 de setembro, sexta-feira, às 20 horas no Centro de Convenções Victor Brecheret. A mostra da Câmara fez enorme sucesso na edição passada, sendo uma oportunidade para quem perdeu ou quer rever o que de melhor se produziu na região. André Carneiro tinha uma visão privilegiada para a fotografia, atividade que exerceu durante toda vida. Seu nome figura entre os precursores da Fotografia Moderna no Brasil, ao lado de fotógrafos brasileiros consagrados como Thomas Farkas, Geraldo de Barros, German Lorca, Eduardo Salvatore, Chico Albuquerque, Madalena Schwartz, José Yalenti, entre outros. As imagens integram o livro Fotografias Achadas, Perdidas e Construídas, lançado em 2009 pelo editor Valdir Rocha e revela situações por trás das fotos, além de causos e histórias sobre o tema. Em muitas delas Atibaia é cenário e antigos moradores os protagonistas. Nesse dia também aconteceu a Sessão da Câmara, onde o curador da Semana, Márcio Zago, usou o espaço da Tribuna Livre para falar sobre as propostas da Semana André Carneiro e a relação do homenageado com a cidade de Atibaia. O tema foi muito bem recebido entre vereadores e público presente. No final da sessão o vereador Paulo Catta Preta (PV) se prontificou a oficializar o evento, inserindo-o no calendário cultural da cidade. Fato que contribuirá na  continuidade da proposta, oferecendo respaldo institucional e condições efetivas para pleitear dotação orçamentária do município. As limitações financeiras foram um dos fatores que impediram, até agora, a implantação da Semana André Carneiro como previsto em sua concepção original. Nela a participação dos artistas locais e regionais, através de mostras, concursos e editais, seriam de suma importância para a expansão e envolvimento da cidade em suas atividades. O curador da Semana agradece a prontidão e seriedade do vereador ao somar esforços no sentido de legitimar a importância do artista e sua obra para a cidade de Atibaia. A 3ª Semana André Carneiro tem a realização do Instituto de Arte e Cultura Garatuja e Prefeitura da Estância de Atibaia, através da Secretaria de Cultura e Eventos.


















domingo, 4 de setembro de 2016

Exposição na Câmara abre a programação da 3ª Semana André Carneiro.


























Começa nessa segunda feira, dia 05 de setembro, a mostra A Arte Fotográfica de André Carneiro. Ela pode ser vista das 8h às 17hs na Câmara Municipal de Atibaia. A iniciativa, organizada pelo Departamento de Comunicação e Escola Legislativa de Atibaia tem a frente o jornalista Luis Gonzaga Neto e integra a programação da 3a Semana André Carneiro. As fotos estão presentes no livro Fotografias Achadas, Perdidas e Construídas onde André revela situações por trás das fotos, além de causos e histórias sobre o tema. Em muitas delas Atibaia é cenário e antigos moradores os protagonistas. Essa mostra fez enorme sucesso na edição passada sendo uma oportunidade para quem perdeu ou quer rever o que de melhor se produziu na arte fotográfica da região. Escritor, poeta, cineasta e artista plástico, André tinha uma visão privilegiada para a fotografia – atividade que exerceu durante toda sua vida. Seu nome figura entre os precursores da Fotografia Moderna no Brasil, ao lado de fotógrafos brasileiros consagrados como Thomas Farkas, Geraldo de Barros, German Lorca, Eduardo Salvatore, Chico Albuquerque, Madalena Schwartz e José Yalenti, entre outros. Esses nomes foram escolhidos por uma pesquisa internacional que selecionou 24 fotógrafos considerados pioneiros na arte fotográfica modernista no Brasil, com destaque para a foto Trilhos, de 1951. Essa foto fica em exibição permanente no Tate Gallery, em Londres. No dia 16 de setembro, na abertura oficial da Semana, será aberta outra exposição: André Carneiro Fotografias contendo algumas imagens que integram o livro com o mesmo nome. Belíssima edição, iniciativa de seu filho Mauricio Carneiro, que junto com o irmão Henrique Carneiro, João Urban e o próprio André são autores dos textos iniciais. O livro será lançado com exclusividade nessa 3ª Edição da Semana, dia 16 de setembro, 20hs no Centro de Convenções Victor Brecheret - Atibaia.

Tentativa – Montando o quebra-cabeça


Pinçando aqui e ali, entre uma matéria e outra, vamos recompondo a criação do Jornal Tentativa. Segundo André Carneiro Tentativa nasceu de um conjunto de circunstâncias e coincidências, até certo ponto provocado pela censura ditatorial que cerceava a atividade dos melhores jornais do país. Houve uma grande diminuição dos Suplementos Literários dominicais e as revistas literárias praticamente desapareceram. Eu tinha 27 anos. Junto com um amigo com dez anos menos (César Mêmolo Jr.) e minha irmã Dulce Carneiro com 18, lançamos de Atibaia um jornal literário com o título de TENTATIVA, desenhado pelo grande Aldemir Martins, recentemente chegado do Norte...  Tentativa em pouco tempo ganhou projeção nacional, sendo considerado o melhor jornal literário da época. Essa importância explica-se, em parte, pelo fato de ter logo no primeiro número a apresentação de Oswald de Andrade. Como se conseguiu essa façanha? Em abril de 1948, promoveu-se o 1º Congresso Paulista de Poesia, que cunharia o termo Geração de 45 para aquela classe reunida de escritores e críticos: Sérgio Milliet, Antônio Cândido, Péricles da Silva Ramos, José Geraldo Vieira e outros. Patrícia Galvão, a Pagu, que já fora casada com Oswald, e o próprio André Carneiro, faziam-se presentes. André estava à mesa como representante do Interior. A ausência de Mário de Andrade, recentemente falecido, honrosamente foi lembrada. Não pretendiam criar polêmica com o movimento de 22, isto é mito; estavam sim reunidos para dar continuidade e firmar os passos da nova tendência literária. André mantinha-se calado diante daquelas “vacas sagradas”, ele conta. Após o último dos grandes ter falado, pôs-se a defender sua tese, ao fim da qual Oswald pediu palavra. Imaginou que por suas ironias de agudo senso seria escorraçado. Poucos ousavam enfrentar Oswald, cuja elegante verve transformava em verdade tudo quanto dissesse ou quisesse. Se a burrice pode ter sua assembleia, porque não podem os homens inteligentes aqui se reunir? Começou assim, e lançou sobre Carneiro uma carrada de elogios. Tornaram-se grandes amigos. Oswald passou a visitá-lo regularmente. Nas páginas do Tentativa desfilaram uma extensa lista de colaboradores, nomes já consagrados da literatura nacional em meio aos aspirantes. As gerações de 20, 30 e 45, foram colocadas lado a lado, muitas vezes com posições antagônicas. Sabe a ingenuidade do jogador que não sabe jogar pocker e ganha?, disse André Carneiro. Como eu não conhecia, naquela época, a complexidade de se fazer um jornal literário no Brasil, eu fiz um e fui entrevistando todo mundo e, de repente, eu tinha colaboradores como o Graciliano Ramos e Vinícius de Moraes. O primeiro time escrevia no meu jornal... Essa ideia de “acaso” é parcial. De Atibaia para Todos - Nosso jornal saindo de uma cidade de 14.500 habitantes como Atibaia, quer se libertar de um complexo de estreiteza a provincianismo. Para isso, procura que seu corpo de colaboradores reflita todos os grupos e tendências, num retrato sem preconceitos da atual agitação literária brasileira. E isso não seria possível se tentássemos apontar determinados rumos, selecionando a matéria debaixo de uma rígida orientação pré-estabelecida. A direção de Tentativa procura “não julgar”, já que nos faltam perspectivas para tanto. Vivendo isolados, confessamos sem pejo que nossas ilusões são maiores. Mas não queremos perdê-las, pois delas extraímos a força para que esta publicação continue e permaneça. Esse pequeno aviso, logo no segundo número, revela que Tentativa tinha objetivos claros e plena consciência de tempo e espaço. Foram treze números, sendo os dois últimos realizados somente pelo César Mêmolo Jr. O último, de número 13, ficou por muito tempo desaparecido, sem integrar o acervo da cidade e sem entrar na versão fac-símile publicada em 2006. A organizadora da publicação, Araceles Stamatiu, conta que foi ao Rio buscar esse último número, mas o diagramador esqueceu-se de inseri-lo na publicação. Agora, graças à generosidade do Osvaldo Duarte, é possível montar o quebra-cabeça: saberemos finalmente quem ganhou o Concurso Livro de Contos que tinha como comissão julgadora Sérgio Milliet, Antônio Cândido e Osmar Pimentel e conheceremos o texto final que sinaliza o fim de suas atividades. Para nós, atibaianos ou atibaienses, Tentativa tem um ingrediente a mais. É reconfortante imaginar que um grupo de jovens intelectuais, há mais de sessenta anos, inseriu nossa cidade no mapa do mundo. Tempo em que as ruas ainda eram de terra, sem internet e whatsapp. Com uma ousadia incomum, André Carneiro, sua irmã e um amigo, com desejo e disfarce cosmopolita, como se ao olhar com dissimulado senso de superioridade e por sobre os ombros cobrisse a cidade com o manto do sonho ofuscando nosso secular provincianismo. A partir de agora, com todos os números do Tentativa disponibilizados no site da Semana André Carneiro, estudantes, pesquisadores e demais interessados poderão conhecer nosso maior bem cultural, e com isso, quem sabe, recolocar seus criadores no merecido lugar de destaque como legítimos representantes do que de melhor se produziu em Atibaia e região, e porque não, no Brasil? Um reconhecimento tardio, mas necessário. Saiba mais.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

3ª Semana André Carneiro









Em setembro acontece a 3ª Semana André Carneiro. Sua proposta é promover a obra de um dos maiores artistas de Atibaia. André transitou por diferentes áreas da expressão humana como literatura, cinema, artes plásticas, fotografia, além de atuar na hipnose, publicidade, yoga, jornalismo, área editorial e outros. Em Atibaia foi Diretor de Cultura e grande incentivador da vocação turística do município (faceta pouco conhecida na cidade). Nessa edição o foco será o jornal literário Tentativa, que produziu entre 1949 e 1951. Tentativa foi uma experiência única no Brasil ao reunir numa pequena cidade do interior os mais importantes nomes da literatura nacional, e mesmo internacional, através de seus correspondentes em Portugal, Argentina e França. Fato comparado talvez a Revista Joaquim, de Curitiba, que circulou entre 1946 a 1948. Tentativa teve o logotipo de Aldemir Martins e apresentação de Oswald de Andrade, sendo avaliado na época como o jornal literário mais importante do Brasil. Foi tão grande a repercussão que Oswald de Andrade chegou a acalentar o sonho de formar aqui em Atibaia um centro cultural prevendo revitalizar a cultura nacional e agitar o meio artístico com debates, conferencias, etc. Sonho que nunca se concretizou. É instigante imaginar como um reduzido grupo de artistas, vivendo numa provinciana cidadezinha de 20.000 habitantes, conseguiu realizar um movimento cultural tão importante a ponto de extrapolar os limites do tempo e do espaço. Tentativa é considerada peça fundamental da terceira geração modernista: A Geração de 45. Da pequena gráfica do Jornal O Atibaiense saíram nomes como: Sérgio Milliet, Murilo Mendes, Otto Maria Carpeaux, Guilherme de Almeida, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Vinicius de Moraes, Lygia Fagundes Telles, Décio Pignatari e tantos outros. Tentativa foi uma ousadia de jovens artistas locais, ou, um sonho inverossímil realizado, como definiu o próprio André. Tentativa contou ainda com sua irmã Dulce Carneiro e César Mêmolo Jr. Esse último será homenageado nessa edição. César Mêmolo Jr. foi figura chave nas primeiras realizações de André Carneiro no inicio de sua produção: da fundação da primeira Biblioteca Pública do Município (hoje Biblioteca Municipal Joviano Franco da Silveira), a realização da primeira exposição de Arte Moderna da cidade, nas famosas Sessões Especiais de Cinema de Arte e mesmo integrando o elenco dos filmes experimentais realizados na época, como Solidão e Estudo de Continuidade e Movimento. Cesar Mêmolo Jr. também é pouco conhecido na cidade, mas assim como a André, seu trabalho extrapolou as fronteiras locais: Em 1958 fundou a Lynce Filme. O nome vinha do Hotel Estância Lynce, situado no bairro da Estância Lynce – Atibaia e pertencente a seu pai. Mais tarde foi renomeado Lynxfilm. A Lynxfilm tornou-se a mais importante produtora nacional de filmes publicitários da época e pioneira no ramo da animação comercial. Clássicos da propaganda televisiva como a animação da Varig, dos Cobertores Parayba, das Casas Pernambucanas e tantos outros são da Lynxfilm. Completando a programação da 3ª Semana André Carneiro está previsto também o lançamento de dois livros: Um que reúne os romances Amorquia e Piscina Livre, além de contos e poesias, e outro sobre o trabalho fotográfico do André, editado pela Secretaria de Estado da Cultura de Paraná. Completa a Semana exposição de fotografias e exibições de filmes. Saiba mais: http://garatujaaudiovisual.blogspot.com.br/2016/08/lynxfilm-o-atibaiano-cesar-memolo-jr-e.html