sexta-feira, 5 de agosto de 2016

3ª Semana André Carneiro









Em setembro acontece a 3ª Semana André Carneiro. Sua proposta é promover a obra de um dos maiores artistas de Atibaia. André transitou por diferentes áreas da expressão humana como literatura, cinema, artes plásticas, fotografia, além de atuar na hipnose, publicidade, yoga, jornalismo, área editorial e outros. Em Atibaia foi Diretor de Cultura e grande incentivador da vocação turística do município (faceta pouco conhecida na cidade). Nessa edição o foco será o jornal literário Tentativa, que produziu entre 1949 e 1951. Tentativa foi uma experiência única no Brasil ao reunir numa pequena cidade do interior os mais importantes nomes da literatura nacional, e mesmo internacional, através de seus correspondentes em Portugal, Argentina e França. Fato comparado talvez a Revista Joaquim, de Curitiba, que circulou entre 1946 a 1948. Tentativa teve o logotipo de Aldemir Martins e apresentação de Oswald de Andrade, sendo avaliado na época como o jornal literário mais importante do Brasil. Foi tão grande a repercussão que Oswald de Andrade chegou a acalentar o sonho de formar aqui em Atibaia um centro cultural prevendo revitalizar a cultura nacional e agitar o meio artístico com debates, conferencias, etc. Sonho que nunca se concretizou. É instigante imaginar como um reduzido grupo de artistas, vivendo numa provinciana cidadezinha de 20.000 habitantes, conseguiu realizar um movimento cultural tão importante a ponto de extrapolar os limites do tempo e do espaço. Tentativa é considerada peça fundamental da terceira geração modernista: A Geração de 45. Da pequena gráfica do Jornal O Atibaiense saíram nomes como: Sérgio Milliet, Murilo Mendes, Otto Maria Carpeaux, Guilherme de Almeida, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Vinicius de Moraes, Lygia Fagundes Telles, Décio Pignatari e tantos outros. Tentativa foi uma ousadia de jovens artistas locais, ou, um sonho inverossímil realizado, como definiu o próprio André. Tentativa contou ainda com sua irmã Dulce Carneiro e César Mêmolo Jr. Esse último será homenageado nessa edição. César Mêmolo Jr. foi figura chave nas primeiras realizações de André Carneiro no inicio de sua produção: da fundação da primeira Biblioteca Pública do Município (hoje Biblioteca Municipal Joviano Franco da Silveira), a realização da primeira exposição de Arte Moderna da cidade, nas famosas Sessões Especiais de Cinema de Arte e mesmo integrando o elenco dos filmes experimentais realizados na época, como Solidão e Estudo de Continuidade e Movimento. Cesar Mêmolo Jr. também é pouco conhecido na cidade, mas assim como a André, seu trabalho extrapolou as fronteiras locais: Em 1958 fundou a Lynce Filme. O nome vinha do Hotel Estância Lynce, situado no bairro da Estância Lynce – Atibaia e pertencente a seu pai. Mais tarde foi renomeado Lynxfilm. A Lynxfilm tornou-se a mais importante produtora nacional de filmes publicitários da época e pioneira no ramo da animação comercial. Clássicos da propaganda televisiva como a animação da Varig, dos Cobertores Parayba, das Casas Pernambucanas e tantos outros são da Lynxfilm. Completando a programação da 3ª Semana André Carneiro está previsto também o lançamento de dois livros: Um que reúne os romances Amorquia e Piscina Livre, além de contos e poesias, e outro sobre o trabalho fotográfico do André, editado pela Secretaria de Estado da Cultura de Paraná. Completa a Semana exposição de fotografias e exibições de filmes. Saiba mais: http://garatujaaudiovisual.blogspot.com.br/2016/08/lynxfilm-o-atibaiano-cesar-memolo-jr-e.html


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Espaço Pleno, uma preciosidade !




















Editado pelo Clube da Poesia, em 1966, Espaço Pleno tornou-se um dos raros trabalhos de André Carneiro. Mais que um livro, é um objeto de arte. As ilustrações são do artista plástico uruguaio Luis Díaz. No processo tipográfico, utilizado em sua confecção, as letras eram impressas através dos tipos móveis e para as ilustrações utilizavam-se clichês - matrizes de metal gravadas foto mecanicamente em relevo. Especificamente nesse livro, além da maior elaboração no uso dos tipos móveis, há outra inovação: a substituição do clichê pela xilogravura. Diferente do clichê, que tende a uniformizar a imagem, a xilogravura, pelo seu caráter artesanal, torna cada livro um objeto único. Luis Díaz elaborou xilogravuras em madeiras, com espessura de um clichê, que foram diretamente para a máquina, exigindo alguns acertos com minúsculos calços, o que resultou na produção de um livro em que todos os exemplares traziam xilogravuras originais, um fato inédito no Brasil e talvez no mundo. Esse texto faz parte da matéria Espaço Pleno – O que você não sabia, de Carlos Alberto Pessoa Rosa publicado em 2003 no jornal O Balaio. O artigo trás ainda uma entrevista que Carlos Alberto realizou com Luis Díaz. Sim, tenho as matrizes. Não dou, não vendo. Eu as amo. Foi um trabalho feito para a obra de um amigo querido...Mas a real validade do livro – claro, me refiro à forma, não a poesia do André – não está nas ilustrações, senão na diagramação, também de minha autoria. Sempre tinha me incomodado ao ler poesia à falta de ar entre uma e outra. Achava eu, e acho ainda, que cada poesia é um fato artístico isolado e que, como um quadro, por exemplo, precisa de moldura e espaço em volta. Daí ter proposto uma coisa até então, ao que me consta, inédita: que cada poesia, além de ter sua ilustração teria sua própria diagramação, com tipos e (in) paginações particulares. Desta forma, o leitor deveria descobrir também como ler cada uma (vira de um lado, vira do outro), com isso haveria certa distância e uma intimidade diferente com cada uma delas. E seriam impressas em folhas isoladas, para serem lidas abrindo da esquerda para a direita... Foi impresso o livro no papel mais pobre da época, creio que pluma, e encadernado em capa de resma sueca! Pobreza metida à sofisticada, que deu um resultado inaudito, e, em minha opinião, a vaidade que vai se coçar, muito bonito. Era amarrado no todo, com uma fita de gorgurão 25 de março, autêntica, da pontinha, se sabes o que é isso. Durante o processo de elaboração do livro foram feitas réplicas ou “bonecos” com a finalidade de conferir visualmente o resultado final, ou como  provas de impressão. Uma dessas provas está comigo. Me foi passado pelo Mauricio Carneiro e são layouts praticamente concluídos, que trazem anotações e correções de texto que evidenciam o meticuloso cuidado dedicado ao projeto. Uma preciosidade! Saiba mais clicando aqui.