sábado, 1 de outubro de 2016

César Mêmolo Júnior e a cultura local

Na 3ª Semana André Carneiro o destaque foi o jornal literário Tentativa, o maior patrimônio cultural erudito do município (Patrimônio cultural popular são as Congadas). Tentativa foi criado por André Carneiro, que contou com a participação da irmã Dulce e do amigo César Mêmolo Júnior, o homenageado desse evento. 
O Grupo

No final da década de quarenta, César Mêmolo Júnior era um dos jovens atibaienses que buscavam trazer para a pequena cidade de Atibaia a contemporaneidade dos grandes centros. Atibaia, na época com aproximadamente 14.000 habitantes, recentemente transformada em estância hidromineral vivia um período de esperança pós-guerra. Desse grupo fazia parte, além de Cesar Mêmolo Jr. e seus primos Elisa Helena e Maria Amélia, Amadeu Lana, Luzia Lima de Oliveira Chaves, Dulce Carneiro, Maria Francisca, Odila e Odete Carneiro, tendo André Carneiro como mentor e catalisador. Ligados e incentivados pela corrente cultural europeia o grupo realizou uma série de ações que marcaram a vida cultural da cidade para sempre. Uma de suas características era transitar por diversas linguagens, fato que influiu na produção de André Carneiro, de João Luiz Chaves e do próprio César Mêmolo Júnior.
Nota no Jornal A Manhã (1950)
Rio de Janeiro
Na literatura ocorreu a criação da primeira biblioteca pública de Atibaia, hoje Biblioteca Joviano Franco da Silveira. André Carneiro publica o livro Ângulo e Face (1949), César Mêmolo Júnor,  Permanência e Tempo (1950). Dulce Carneiro escreve poesia com regularidade e juntos criam o Jornal Literário Tentativa (1949-1951). No cinema organizam o Clube de Cinema de Atibaia, com as famosas seções especiais de cinema e arte, com debates no final. Realizam ainda curtas metragens. De André Carneiro: Solidão, Estudo de Continuidade e Movimento e Último Encontro (1950). De César Mêmolo Jr: A Briga, A Olaria, Saudade, Trágica Recordação (1950). Na fotografia, André Carneiro descobre o Cine-foto Clube Bandeirantes e intensifica a produção, tendo muitas vezes Atibaia e seus personagens como tema, sempre pelo viés artístico e não de puro registro.  Nas artes plásticas André Carneiro e João Luiz Chaves dedicam-se com empenho à linguagem e organizam em 1955 a Exposição Coletiva de Pintura, que alcançou enorme projeção. Trouxe para Atibaia obras originais de artistas consagrados como Guignard, Oswald de Andrade Filho (autor do painel Congadas, que se encontra no Parque Edmundo Zanoni), Lothar Charoux, Oswaldo Goeldi, Carlos Scliar, entre outros.  A exposição se deu por ocasião da fundação do Clube do Cinema de Atibaia, organizada pelo Jornal Tentativa e por Aldo Bonadei e Geraldo de Barros.

Quem foi César Mêmolo Júnior

Estância Lynce na década de sessenta - Foto da internet
Seu pai, César Mêmolo, foi grande divulgador de Atibaia. Proprietário do Hotel Campestre Estância Lynce, trouxe para cá personalidades de projeção no meio político, industrial e cultural, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, e outros. Dotado de visão empreendedora, construiu o Ginásio Atibaiense, mais tarde desapropriado pelo Estado, e renomeado Colégio Estadual Major Juvenal Alvim, em atividade até hoje. No início da década de cinquenta, Cesar Mêmolo Júnior intensifica seu interesse pelo cinema e vai trabalhar como assistente de produção no filme Candinho, de Mazzaropi, logo em seguida com Adolfo Celi. Ganha um concurso e vai pra Itália estudar no Centro Sperimentale de Cinematografia, em Roma. Volta pro Brasil e dirige o longa-metragem Osso, Amor e Papagaio. Nunca mais deixou o cinema. Em 1957 monta em São Paulo a produtora Lynce Filmes, especializada em comerciais para televisão. O nome propunha dar continuidade à tradição dos negócios paternos em Atibaia, cujo nome era Lynce Ltda. Mais tarde a Lynce Filmes foi renomeada Linxfilm. A produtora abrigou importantes profissionais do cinema paulista que passavam por dificuldades em função da estagnação do mercado cinematográfico. Esse potencial criativo, aliado ao desenvolvimento tecnológico, tornou a Linxfilm, na época, a mais importante produtora nacional de filmes publicitários. Sua expansão estava diretamente ligada ao crescimento e profissionalização da televisão brasileira. Mais tarde foi aberta uma filial no Rio de Janeiro e outra em Porto Alegre. De lá saíram filmes publicitários que fazem parte da história da televisão brasileira. A presença do desenhista, chargista e animador Ruy Perotti, como sócio da Lynxfilm, foi fundamental para tornar a produtora pioneira na animação publicitária no Brasil. A facilidade técnica, os reduzidos custos de produção, a liberdade criativa e os resultados alcançados fizeram com que a animação tomasse destaque na produtora. Foram inúmeras campanhas desenvolvidas nessa técnica, hoje clássicos da publicidade nacional como as propagandas da Varig, Casas Pernambucanas, Cobertores Parayba, Fósforos Fiat Lux, etc. Com a próspera atividade da propaganda e o incentivo oferecido pela Embrafilme, a Linxfilm, por influência de César Mêmolo Júnior, volta-se novamente para a produção cinematográfica. Foram dez produções: Vozes do Medo (1070), O Predileto (1975), O Seminarista (1976), Contos Eróticos (1977), As Filhas do Fogo (1978), Diário da Província (1978), O Sol dos Amantes (1979), Ato de Violência (1980), Alguém, (1980) e O Homem do Pau Brasil (1981). Destaque para o filme O Seminarista, lançado comercialmente em Atibaia, e Alguém, roteiro baseado no conto O Mudo, de André Carneiro. A importância do trabalho de César Mêmolo Júnior nas áreas da publicidade, animação comercial e cinematografia nacional, principalmente paulista, garante seu nome na história do audiovisual brasileiro. Soma-se a isso sua contribuição à cultura local, ligada principalmente ao Jornal Literário Tentativa, no qual foi o único responsável pelas duas últimas edições, o que qualifica seu nome, embora não tenha nascido em Atibaia, como um dos grandes construtores da sociedade atibaiense.Saiba mais.


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