Editado pelo Clube da Poesia, em 1966, Espaço Pleno tornou-se um dos raros trabalhos de André Carneiro. Mais que um livro, é um objeto de arte. As ilustrações são do artista plástico uruguaio Luis Díaz. No processo tipográfico, utilizado em sua confecção, as letras eram impressas através dos tipos móveis e para as ilustrações utilizavam-se clichês - matrizes de metal gravadas foto mecanicamente em relevo. Especificamente nesse livro, além da maior elaboração no uso dos tipos móveis, há outra inovação: a substituição do clichê pela xilogravura. Diferente do clichê, que tende a uniformizar a imagem, a xilogravura, pelo seu caráter artesanal, torna cada livro um objeto único. Luis Díaz elaborou xilogravuras em madeiras, com espessura de um clichê, que foram diretamente para a máquina, exigindo alguns acertos com minúsculos calços, o que resultou na produção de um livro em que todos os exemplares traziam xilogravuras originais, um fato inédito no Brasil e talvez no mundo. Esse texto faz parte da matéria Espaço Pleno – O que você não sabia, de Carlos Alberto Pessoa Rosa publicado em 2003 no jornal O Balaio. O artigo trás ainda uma entrevista que Carlos Alberto realizou com Luis Díaz. Sim, tenho as matrizes. Não dou, não vendo. Eu as amo. Foi um trabalho feito para a obra de um amigo querido...Mas a real validade do livro – claro, me refiro à forma, não a poesia do André – não está nas ilustrações, senão na diagramação, também de minha autoria. Sempre tinha me incomodado ao ler poesia à falta de ar entre uma e outra. Achava eu, e acho ainda, que cada poesia é um fato artístico isolado e que, como um quadro, por exemplo, precisa de moldura e espaço em volta. Daí ter proposto uma coisa até então, ao que me consta, inédita: que cada poesia, além de ter sua ilustração teria sua própria diagramação, com tipos e (in) paginações particulares. Desta forma, o leitor deveria descobrir também como ler cada uma (vira de um lado, vira do outro), com isso haveria certa distância e uma intimidade diferente com cada uma delas. E seriam impressas em folhas isoladas, para serem lidas abrindo da esquerda para a direita... Foi impresso o livro no papel mais pobre da época, creio que pluma, e encadernado em capa de resma sueca! Pobreza metida à sofisticada, que deu um resultado inaudito, e, em minha opinião, a vaidade que vai se coçar, muito bonito. Era amarrado no todo, com uma fita de gorgurão 25 de março, autêntica, da pontinha, se sabes o que é isso. Durante o processo de elaboração do livro foram feitas réplicas ou “bonecos” com a finalidade de conferir visualmente o resultado final, ou como provas de impressão. Uma dessas provas está comigo. Me foi passado pelo Mauricio Carneiro e são layouts praticamente concluídos, que trazem anotações e correções de texto que evidenciam o meticuloso cuidado dedicado ao projeto. Uma preciosidade! Saiba mais clicando aqui.
segunda-feira, 1 de agosto de 2016
Espaço Pleno, uma preciosidade !
Editado pelo Clube da Poesia, em 1966, Espaço Pleno tornou-se um dos raros trabalhos de André Carneiro. Mais que um livro, é um objeto de arte. As ilustrações são do artista plástico uruguaio Luis Díaz. No processo tipográfico, utilizado em sua confecção, as letras eram impressas através dos tipos móveis e para as ilustrações utilizavam-se clichês - matrizes de metal gravadas foto mecanicamente em relevo. Especificamente nesse livro, além da maior elaboração no uso dos tipos móveis, há outra inovação: a substituição do clichê pela xilogravura. Diferente do clichê, que tende a uniformizar a imagem, a xilogravura, pelo seu caráter artesanal, torna cada livro um objeto único. Luis Díaz elaborou xilogravuras em madeiras, com espessura de um clichê, que foram diretamente para a máquina, exigindo alguns acertos com minúsculos calços, o que resultou na produção de um livro em que todos os exemplares traziam xilogravuras originais, um fato inédito no Brasil e talvez no mundo. Esse texto faz parte da matéria Espaço Pleno – O que você não sabia, de Carlos Alberto Pessoa Rosa publicado em 2003 no jornal O Balaio. O artigo trás ainda uma entrevista que Carlos Alberto realizou com Luis Díaz. Sim, tenho as matrizes. Não dou, não vendo. Eu as amo. Foi um trabalho feito para a obra de um amigo querido...Mas a real validade do livro – claro, me refiro à forma, não a poesia do André – não está nas ilustrações, senão na diagramação, também de minha autoria. Sempre tinha me incomodado ao ler poesia à falta de ar entre uma e outra. Achava eu, e acho ainda, que cada poesia é um fato artístico isolado e que, como um quadro, por exemplo, precisa de moldura e espaço em volta. Daí ter proposto uma coisa até então, ao que me consta, inédita: que cada poesia, além de ter sua ilustração teria sua própria diagramação, com tipos e (in) paginações particulares. Desta forma, o leitor deveria descobrir também como ler cada uma (vira de um lado, vira do outro), com isso haveria certa distância e uma intimidade diferente com cada uma delas. E seriam impressas em folhas isoladas, para serem lidas abrindo da esquerda para a direita... Foi impresso o livro no papel mais pobre da época, creio que pluma, e encadernado em capa de resma sueca! Pobreza metida à sofisticada, que deu um resultado inaudito, e, em minha opinião, a vaidade que vai se coçar, muito bonito. Era amarrado no todo, com uma fita de gorgurão 25 de março, autêntica, da pontinha, se sabes o que é isso. Durante o processo de elaboração do livro foram feitas réplicas ou “bonecos” com a finalidade de conferir visualmente o resultado final, ou como provas de impressão. Uma dessas provas está comigo. Me foi passado pelo Mauricio Carneiro e são layouts praticamente concluídos, que trazem anotações e correções de texto que evidenciam o meticuloso cuidado dedicado ao projeto. Uma preciosidade! Saiba mais clicando aqui.
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