quarta-feira, 24 de abril de 2019

“Tentativa” e o Modernismo no Brasil



















No início do século XX a Europa vivenciava um conjunto de expressões artísticas diretamente influenciadas pela Revolução Industrial. Movimentos como Simbolismo, Expressionismo, Suprematismo, Dadaísmo, Surrealismo, entre outros formaram a chamada Arte Moderna. Considerada eminentemente europeia, a arte moderna foi introduzida na América durante a I Guerra Mundial, quando artistas franceses fugiram do conflito para a cidade de Nova York. Artistas brasileiros, em suas idas ao exterior, também voltavam com estas novas influências possibilitando o início do Modernismo no Brasil. O Modernismo brasileiro teve três fases: a primeira surgiu em 1922, à segunda em 1930 e a terceira em 1945. O ponto de partida foi a Semana de Arte Moderna, que ocorreu entre 13 e 18 de fevereiro de 1922 e possibilitou a aproximação de vários artistas com ideias modernistas, dando força ao movimento. A primeira fase foi um período de ruptura estética e grande produção em diferentes áreas. Quatro correntes de pensamento dominavam o teor ideológico do movimento ao longo da década de 20. O Manifesto Pau Brasil, fundado por Oswald de Andrade, fazia críticas ao passado cultural brasileiro, que imitava os modelos europeus, e propunha um olhar mais “brasileiro”, apesar das influencias europeias. O Verde Amarelismo defendia um nacionalismo exagerado, sem qualquer influência europeia. Essa corrente originaria a Escola da Anta, com inclinações nazistas e ideais xenófobos e finalmente a Antropofagia, também fundada por Oswald de Andrade, que vinha como uma nova resposta às duas correntes, pregando a aceitação da cultura estrangeira, mas sem cópias e imitações. Esta cultura deveria ser absorvida pela cultura brasileira, que colocaria na arte a representação da realidade do Brasil e do elemento popular, valorizando as riquezas nacionais. A segunda fase modernista, de 1930, ocorreu em meio à revoltas contra a política brasileira do café-com-leite e à crise econômica ocasionada pela crise de 1929, que impossibilitava a importação do café, principal riqueza brasileira. As Grandes Guerras também viriam a compor o cenário histórico da época, caracterizando essa geração pela forte posição ideológica. O resultado é a arte engajada que surgiu na segunda fase modernista, com uma reflexão sobre a época de crise e pobreza. Nessa fase a literatura dividiu-se em prosa e poesia: a prosa voltava-se para a crítica social, trazendo à tona os retratos de várias regiões do país como forma de denúncia dos problemas sociais de cada região; a poesia voltava-se ao questionamento sobre a existência humana e a compreensão de seu lugar nesse mundo tão conflituoso. Na prosa os principais nomes foram Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Érico Verissimo. Na poesia Cecília Meireles, Vinicius de Moraes, Jorge de Lima, Murilo Mendes. Com o fim das duas guerras mundiais vem um período de democratização política brasileira e o Modernismo brasileiro começou a ganhar novos rumos. Surge a “Geração de 45”. Já era desnecessário o empenho social e político, pois, em tese, não havia mais conflitos aos quais se oporem. A geração de 1945 abandonou vários ideais de 22, criando novas regras que permitiam a liberdade para o artista criar o que quisesse. Eles não estavam mais ligados à obrigação de aproximar-se da realidade brasileira e nem de aproximar-se do povo através de uma linguagem popular e descontraída, aproximando-se mais a temática ligada às questões humanas e estéticas. Os principais autores foram Clarice Lispector, Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto. Como suporte literário da “Geração de 45” destacaram-se algumas publicações como “Revista Brasileira de Poesia”, publicado em 1947 por Péricles Eugênio da Silva Ramos. Essa revista marcou o surgimento da terceira geração do modernismo brasileiro, assim como a “Revista Orfeu”, também fundada em 1947, no Rio de Janeiro e a revista “Joaquim” editado em Curitiba por Dalton Trevisan em 1946. É nesse contexto que entra a importância do Jornal literário “Tentativa”. Editado numa pequena cidade do interior, “Tentativa” não teve a mesma visibilidade das outras revistas, mas configura também num legitimo representante da geração de 45. Um tesouro a ser descoberto e revelado ao meio acadêmico e demais interessados na história e formação cultural do povo brasileiro. Trabalho de três artistas locais, que com visão extraordinariamente a frente de seu tempo, trouxeram para a cidade de Atibaia as inquietações estéticas e conceituais do que havia de mais atual no meio artístico, inserindo seu nome no mapa do mundo. Para marcar a data, dia 04 de maio sairá o tabloide “Tentativa – 70 anos” encartado nas páginas do centenário jornal “O Atibaiense”, exatamente como aconteceu ha sete décadas. Essa ação faz parte da 6ª Semana André Carneiro que acontecerá de 04 a 14 de maio no Centro Cultural que leva seu nome. A curadoria é de Márcio Zago e a realização do Instituto de Arte e Cultura Garatuja e da Prefeitura da Estância de Atibaia através da Secretaria de Cultura.

sábado, 13 de abril de 2019

“Tentativa” e seu contexto


“Tentativa”, o melhor jornal literário de sua época foi totalmente produzido em Atibaia. Descendente direto do Suplemento Literário, “Tentativa” já nasceu grande. Segundo seus realizadores, o nome escolhido veio do fato dele reunir em suas páginas as mais diversas tendências, opiniões, artistas e intelectuais da época. Nomes consagrados da literatura e da intelectualidade nacional figuraram ao lado dos emergentes, em posições muitas vezes antagônicas, que fizeram desse jornal um legítimo representante da geração pós-modernista de 45.  Para conseguir essa façanha (quase impossível de acontecer nos tempos atuais), umas séries de fatores contribuíram para sua realização. Primeiro o contexto politico e social da época: Período pós-guerra, de reconstrução e esperança. Em Atibaia a sociedade se organizava e reafirmava sua identidade turística. Em 1943 foi inaugurado o Hotel de Campo Estância Lynce. Em 1944 surgiu a SADA- Sociedade Amigos de Atibaia. Em 1947 Atibaia foi oficialmente intitulada Estância Hidro-Mineral. Em 1948 foi inaugurado o Ginásio Atibaiense. Fatos que contaram com intensa participação do empreendedor César Mêmolo. Nesse meio surge o “Tentativa”, iniciativa de André Carneiro, sua irmã Dulce e do amigo César Mêmolo Junior, que além das qualidades artísticas, era quem dava o suporte financeiro a iniciativa. Seu pai havia recentemente arrendado o jornal O Atibaiense, onde “Tentativa” foi impresso e encartado como suplemento. Outro fator favorável foi à facilidade que os três produtores tinham de conhecer artistas de nome do cenário nacional.  Muitos se hospedavam no Hotel Estância Lynce, a convite de seu proprietário e anfitrião, o empresário Cesár Mêmolo. Alguns desses hóspedes integraram as páginas do “Tentativa” e se tornaram frequentadores assíduos da cidade. Foram eles que ajudaram a formar nossa identidade cultural e divulgar nossas ações. Por aqui deixaram textos e poemas exaltando os encantos e belezas naturais do município como: “Atibaia”, de Menotti del Picchia; “Flor Serrana”, de Guilherme de Almeida e “Soneto a Atibaia”, também de  Guilherme de Almeida são alguns exemplos. Ao completar setenta anos de “Tentativa”, o mesmo jornal que um dia possibilitou seu surgimento, o centenário O Atibaiense, irá lançar um encarte comemorativa a data. Ele será publicado no próximo dia 04 de maio, edição de sábado, data que também será aberto a 6ª Semana André Carneiro, evento anual que homenageia nosso artista mais importante. No encarte artigos de escritores, conhecedores da obra, estudiosos, jornalistas, familiares e autoridades falando sobre nosso maior bem cultural. Reserve o seu exemplar.

Matéria do jornal O Atibaiense - 13/04/2019

sábado, 6 de abril de 2019

Setenta anos de “Tentativa”

























Há exatos setenta anos surgia o jornal literário “Tentativa”. Ele veio à luz como encarte no centenário “O Atibaiense”. Provavelmente o encarte passou despercebido por boa parte da população, indiferente às propostas arrojadas de um grupo de intelectuais que teimavam em trazer a modernidade para as pacatas ruas do município. Atibaia, que contava na época com aproximadamente vinte e cinco mil habitantes, mal sabia que a partir daquele abril de 1949 teria seu nome associado a um evento cultural de grande importância nacional: A Semana de Arte Moderna de 22. E isso não é pouco! A Semana de 22 foi um marco, estabelecendo a grande renovação linguística, conceitual e estética da cultura nacional. Nomes consagrados do modernismo brasileiro e protagonistas da Semana de 22 circularam por aqui em diferentes épocas como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet entre outros. Alguns registrando os encanto e belezas naturais da cidade através de textos e poemas. Muitas vezes as visitas aconteciam a partir do convite do empresário César Mêmolo, que mantinha a função de “relações públicas” da cidade e de seu principal empreendimento: o Hotel Estância Lynce.  Outras visitas aconteciam por ocasião dos eventos culturais que ocorriam no município. Que foram muitos. Um desse aglutinador cultural foi o jornal literário “Tentativa”. Criado em 1949, pelo artista André Carneiro, sua irmã Dulce Carneiro e o amigo César Mêmolo Junior, “Tentativa” em pouco tempo passou a representar em suas páginas as posições da chamada “Geração de 45”, extensão da Semana de 22, tornando-se importante representante desse movimento. Com isso “Tentativa” extrapolou os limites geográficos do município e ganhou o mundo, sendo considerado na época o melhor jornal literário do país. Sua fama atraiu para a cidade a atenção de artistas e intelectuais de peso do cenário nacional, sendo Oswald de Andrade seu maior expoente. É dele a apresentação do “Tentativa”, que conta ainda com o logotipo de Aldemir Martins e a participação de inúmeros artistas nacionais. O vinculo estabelecido entre Oswald de Andrade, André Carneiro e a cidade foram tantas que Oswald de Andrade externou certa vez sua intensão de morar em Atibaia. Para marcar e celebrar os setenta anos do “Tentativa”, a 6ª Semana André Carneiro será dedicada a ele, e uma das ações prevê a publicação de um encarte que saíra no mesmo jornal “O Atibaiense”, como ocorreu a sete décadas atrás. Nesse encarte textos de amigos, conhecedores da obra, simpatizantes, escritores, familiares, artistas e autoridades constituídas comentando sobre o “Tentativa” e sua importância para o município. O encarte saíra dia 04 de maio próximo, quando também terá inicio a 6a Semana André Carneiro.