sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Mostra O Cinema Nacional de Ficção Científica

Nessa 2a Semana André Carneiro a filmografia de ficção cientifica nacional ganha destaque em sua programação. São filmes raros e cultuados entre os aficionados do gênero e mesmo entre os cinéfilos mais atentos. Essa proposta está presente em função do homenageado ter estreita ligação com o tema. André Carneiro é considerado o mais importante escritor de ficção cientifica do Brasil, embora visse com ressalva essa qualificação. André afirmava que literatura é literatura, independente dos rótulos e lembrava que essa distinção não existe em outros países. No Brasil houve poucas produções cinematográficas voltadas ao tema, daí a importância dessa mostra, que oferece um pequeno panorama do que foi produzido nas décadas de sessenta, setenta e oitenta, percorrendo diferentes leituras do imaginário do futuro. Há filmes mais ligados ao senso comum da ficção cientifica como seres de outro planeta invadindo a terra e conflitos intergalácticos, outros mais sutis, passando por tentativas de trazer tradições nacionalistas ao tema. Dois filmes são bastante raros e cultuados: Alguém, de Júlio Silveira e O 5o Poder, de Alberto Pieralise. Alguém tem o roteiro baseado no conto O Mudo, de André Carneiro e encerra a programação da Semana. As sessões serão procedidas de debate coordenado por Euclides Sandoval, cinéfilo, cineclubista e autor do livro Cinema com Pipoca

Programação

Dia 22 de agosto - Sábado - 20 horas no IAC Garatuja
O 5o Poder - 1962 - Direção de Alberto Pieralisi

Agentes estrangeiros infiltrados no Brasil planejam dominar a população do país por meio de mensagens subliminares veiculadas por conexões clandestinas às antenas de rádio e TV. Os vilões iniciam a irradiação dos sinais subliminares e os brasileiros se tornam violentos e passam a clamar por uma revolução. Carlos Reichenbach adorava esse filme e fala sobre ele: “O quinto poder, de Alberto Pieralisi, é um dos poucos clássicos do cinema policial brasileiro e um dos mais autênticos projetos de produtor, no caso o jornalista Carlos Pedregal. O filme é premonitório e ao mesmo tempo um "thriller" emocionante. A sequência de briga no teto do bondinho do Pão de Açúcar é mais bem filmada que qualquer James Bond milionário.” Para o cineasta Ivan Cardoso O 5º Poder está entre os dez melhores filmes do cinema Brasileiro. “ É um filmaço para Hitchcock nenhum botar defeito! Com um roteiro magistral de Carlos Pedregal em torno de um tema bastante em voga naquele tempo, a propaganda subliminar na TV...Misturando espiões nazistas que, invadem o Brazil a bordo de um submarino...A trama macabra termina com uma antológica briga, nos braços do Cristo Redentor, digna do Mestre do Suspense. Em 1964 este filme acabou sendo vitima de uma série de equívocos que culminaram com incêndio de seus negativos e a fuga de Pedregal para a Espanha...Mas graças a uma cópia perdida na Cinemateca de Berlin o filme foi restaurado e aos poucos vai mostrando os seus poderes que continuam mais fortes do que nunca!!!”

Dia 23 de agosto - Domingo - 20 horas no IAC Garatuja
O Homem das Estrelas – 1971 – Direção de Jean-Daniel Pollet

Um ser de outra galáxia chega às costas brasileiras. Dotado da faculdade de viajar no tempo, o 'homem das estrelas' percorre diversas épocas da História do Brasil, do início da colonização aos dias atuais, alternando sua relação com negros, escravos oprimidos e um alquimista perseguido, de um lado, pelo amor de Lisa, uma jovem carioca, de outro. Odara - como ele é batizado pelos negros que protegeu - é testemunha importante da violência que não pode conter, apesar de seus dons incomuns. Chega ao final da aventura tão perplexo como quando a iniciou, na tarefa de levar ao fogo o corpo morto de um ente querido. Participação de Ruy Guerra como o alquimista Luís Carlos e do sambista Martinho da Vila.



Dia 24 de agosto - Segunda - 20 horas no IAC Garatuja
Quem é Beta? - 1973 - Direção de Nelson Pereira dos Santos

No futuro hippie-apocalíptico sem-lei de Quem é Beta? , o foco recai sobre a relação de uma visitante com um casal que vive entrincheirado, abatendo os "contaminate" a tiros. Supõe-se que a humanidade tenha se dividido entre "sãos" e "contaminados", estes últimos condenados a vagar como zumbis até a morte. Quem é Beta? apresenta também uma engenhoca capaz de materializar memórias, projetando-as sobre uma cortina de fumaça. O filme se beneficia de paisagens rurais e litorâneas, mistura de línguas e idioletos, referências do movimento hippie e do candomblé.





Dia 25 de agosto - Terça - 20 horas no IAC Garatuja
Abrigo Nuclear - 1981 - Direção de Roberto Pires

O filme foi produzido em 1979, resultado do interesse do cineasta Roberto Pires com a temática nuclear, e de seus encontros com o cientista César Lattes. É um drama de ficção científica que aborda os efeitos nocivos da radiação, consequentes da saturação do lixo atômico depositado na Terra e responsável pela contaminação dos seres humanos e de todo o planeta. A sociedade vive reclusa num abrigo subterrâneo. O encarregado da manutenção de detritos radioativos na superfície acaba constatando sérios problemas na estocagem do lixo atômico, e consequentemente o risco de uma explosão que poderia comprometer o abrigo. Mas seu relatório alarmante é considerado insubordinação pelo comandante, que mantém a população subterrânea em estrita disciplina e ignorante de que, no passado, a humanidade já havia habitado a superfície.

Dia 26 de agosto - Quarta - 20 horas no IAC Garatuja
Amor Voraz - 1984 -  Direção de Walter Hugo Khouri

Mostra o relacionamento entre uma mulher e um alienígena que viajou no espaço, sob a forma de luz, com o objetivo de encontrar refúgio para seu povo, uma civilização muito avançada e antiga cujo planeta está prestes a se extinguir. Ele levou milhares de anos para “germinar” como homem num lago e sua missão é reportar dados sobre a Terra

Dia 27 de agosto - Quinta - 20 horas no Centro de Convenções Victor Brecheret 
Alguém - 1980 - Direção de Júlio Silveira. O filme encerra a 2a Semana André Carneiro.

Assim como o filme, o conto de André Carneiro é bastante sutil, com nada muito deliberado em termos de associação com o imaginário da ficção científica – característica de boa parte de seus trabalhos. O filme é sobre o relacionamento entre a adolescente Maria Eugênia (Miriam Rios) e um dos empregados (Nuno Leal Maia), da fazenda de seu pai, anos 50. Esse homem misterioso é mudo e vive quase como eremita, numa espécie de abrigo que ele mesmo construiu. Ninguém sabe sua origem ou possui informações sobre sua história. Ele também tem um dom muito especial que fascina o povo das redondezas: os vegetais que ele acaricia dão frutos gigantes (uvas, pêssegos e jabuticabas). Conforme Maria Eugênia e o mudo estreitam a amizade, ela passa a chamá-lo de “alguém”. Mas o rico fazendeiro pretende enviar a filha para estudar na Suíça, quando entra em cena Pascal (Ewerton de Castro), professor de francês. A essa altura Eugênia aparenta um desenvolvimento físico precoce, o que leva a supor que a convivência dela com o mudo tenha provocado o amadurecimento acelerado do corpo da jovem. Eugênia e Pascal se apaixonam, ela engravida, os dois se casam e vão viver em São Paulo. Enquanto isso, devido à solidão angustiante, o mudo definha até ser encontrado morto na fazenda. Esse filme é referencia quando o assunto é a filmografia de ficção cientifica nacional e jamais foi lançado comercialmente, permanecendo longo período inacessível ao público.

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